Cap. 294
Cedro Vermelho percebe que quase toda a aldeia já está reunida ao redor da tenda de Chuva Quente para acompanhar seu conflito familiar.
Falando em Siksikáí'powahsin, o nativo, cansado da situação e com uma ressaca que faz sua cabeça se sentir como um traseiro de vaca segurando um peido, tenta resolver situação da maneira mais equilibrada e diplomática possível:
— Vamos primeiro fazer a despedida de nossa querida Nokomis e, se possível, dos brancos que a trouxera também. Falamos sobre família depois.
— Quando? – cobra antecipadamente Chuva Quente, já conhecedora da índole escorregadia de seu… ela ainda não sabe como definir.
A cobrança pública incomoda Cedro Vermelho como uma ferroada de vespa no canto do olho.
No entanto, antes que responda, ou tente se esquivar da pergunta, sua mãe também o questiona — Ela é parte da família agora?
Se Chuva foi como uma ferroada da vespa, Noite da Raposa está mais para uma aranha colocando ovos em sua uretra.
Mal o nativo toma fôlego para responder, Chuva Quente adverte: — Se você disser que considera nossa tribo como uma grande família, eu pego as minhas coisas e vou embora, morar com os Shoshones.
Não seria bom para Cedro Vermelho se ela fosse morar com um povo inimigo do seu. Não por causa da falta que sentiria dela, mas por poderem considerar aquilo um ato de guerra.
Pelo menos é isso que ele diz a si mesmo. Mentalmente, é claro, não arriscaria que alguém ouvisse e contasse a ela.
— Chuva Quente é parte de minha família agora. Se ela quiser. – as palavras do chefe surpreendem a todos, inclusive a ele próprio, não por revelar um relacionamento que todos sabiam que existia, mesmo não sendo consumado, mas por ter sido feita na presença de Lua da Raposa.
A anciã se aproxima do filho, espia com o canto de olho para Chuva Quente, encara o nativo e pergunta, com firmeza e em um volume que permita que todos ao redor também escutem:
— Você acha que isso o fará feliz?
— Esqueça o enterro. – sussurra doutor William, se corrigindo mesmo ainda sem compreender o idioma em que falam. — Isso parece mais uma dissecação a céu aberto.